quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

4º Seminário de Gastronomia Molecular - Tema: Sal


Integrado nas actividades do projecto C3 (C ao cubo) que pretende criar condições para o estreitamento de relações e o intercâmbio entre profissionais de cozinha e cientistas, vai realizar-se o quarto seminário de Gastronomia Molecular.

Os participantes do seminário anterior sugeriram como tema para este quarto seminário “Sal”.


Venha aprender mais sobre o sal, falar da sua experiência e esclarecer as suas dúvidas.

Data:
21 de Janeiro
15h 30m às 17h 30m
Local:
ACPP (Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal)
Rua de Sant`Ana à Lapa, nº 71 C, 1200 - 798 Lisboa.
Inscrições:
ACPP
Telefone: ( 351) 21 362 27 05
Fax: ( 351) 21 362 58 15
Correio Electrónico: acpp@acpp.pt
Custo:
10 euros

Artigo no Público

(Clique nas imagens para uma versão aumentada e legível)





Cogumelos em culinária


A Srª D. Maria de Lourdes Modesto falou da sua paixão pelos cogumelos e de como isso a tem levado nos últimos anos a procurar saber mais sobre cogumelos.

Referiu as espécies que considera mais interessantes para a cozinha e as suas formas de preparação mais apropriadas.

A necessidade de branquear (ferver em água durante uns minutos) é justificada pela necessidade de eliminar determinados produtos tóxicos ou para tornar o sabor mais agradável.

Esta informação resumida foi distribuída aos participantes:

Quanto à sua utilização na cozinha, disse que não eram considerados um produto nobre, assim eram apenas usados para matar a fome em situações de grande pobreza, por isso não há um receituário significativo na nossa cozinha tradicional.

Referiu que os cogumelos não devem ser lavados pois já têm muita água na sua constituição e têm tendência a absorver mais água da lavagem. O modo de preparação mais indicado consiste em cortar um pouco da zona inferior do pé e depois limpá-los cuidadosamente com uma escova ou uma trincha. Disse porém que por vezes não é suficiente, ou as pessoas preferem lavá-los. Nesse caso não devem ser mergulhados em água, apenas brevemente passados por água dentro de um passador de rede e depois devem ser limpos e bem secos.

Uma forma de conservar os cogumelos consiste em desidratá-los. Alguns são melhores desidratados, como é o caso das morquelas (morilles) – contêm uma toxina que sendo comidos frescos e insuficientemente cozidos pode causar problemas, necessitando de uma cozedura prolongada. No entanto, a toxina é eliminada quando são secos. Outro exemplo são os shiitake cujo aroma é reforçado durante o processo de secagem, melhorando este bastante o gosto.

Os cogumelos secos devem ser re-hidratados antes de serem cozinhados, podendo a água usada na hidratação ser depois adicionada quando forem cozinhados para enriquecer o sabor.

Foi ainda explicada a técnica a usar para desidratar cogumelos em casa. Consoante o tipo devem ser cortados em fatias (boletos por exemplo) ou secos inteiros (morquelas). Devem ser enfiados num fio, deixando cada porção bem separada das outras e devem ser secos ao ar ou ao sol.

As técnicas usadas para cozinhar cogumelos foram referidas e foi dito que variam também com o tipo de cogumelo, de forma a obter texturas mais agraáveis ou por outras razões inerentes aos cogumelos. Por exemplo, os Trompetas da Morte (Craterellus cornucopioides)

têm uma cor interessante que contrasta com as dos outros cogumelos, mas sendo pretos podem corar os restantes ingredientes, assim, devem ser cozinhados à parte e adicionados no final.

Cogumelos – algumas informações

O Dr. João Luís Baptista Ferreira falou dos cogumelos, explicando que são fungos e que estes constituem um reino à parte de organismos vivos, não estando incluídos nos animais, nem nas plantas.

Explicou o ciclo de vida dos cogumelos. Referiu que o cogumelo adulto produz esporos que são disseminados e ao germinarem dão origem a hifas que ramificam e de onde surgem novos cogumelos.

Falou dos nomes científicos dos cogumelos que os permitem identificar inequivocamente e dos seus nomes comuns que podem ser ambíguos. De facto, um mesmo cogumelo pode ter diferentes nomes comuns e um mesmo nome comum é também usado para diferentes cogumelos. Disse que chega a haver 15 designações diferentes para um mesmo cogumelo e que quanto mais distribuído e mais usado na culinária, mais nomes diferentes tem.

Falou da riqueza do nosso património micológico.

Temos não só uma grande variedade de cogumelos mas, mais do que isso, eles são de grande qualidade do ponto de vista gastronómico. Paradoxalmente somos bastante micófobos, ou seja temos muito medo dos cogumelos e não os usamos na alimentação ou, quando usamos, aproveitamos muito poucas espécies. Por outro lado por vezes é difícil usufruir desta qualidade devido aos melhores cogumelos serem exportados ou a formas deficientes de conservação.

As espécies existentes estão distribuídas por uma grande variedade de habitats.

Como tradicionalmente não consumimos cogumelos, Portugal é um pólo de exportação.

acreditando-se que os valores oficiais correspondem apenas a uma pequena parcela (cerca de ¼ do que é de facto exportado)

Explicou ainda que há cogumelos que vivem em simbiose, ou seja associados a determinados tipos de árvores e que estes não podem ser cultivados, é o caso dos boletos. Só os cogumelos que não estão dependentes de organismos vivos é que podem ser domesticados, como os agáricos (por exemplo champignon de Paris).

Relato do 3º Seminário - Cogumelos

No dia 19 de Novembro teve lugar nas instalações da ACPP o 3º Seminário de Gastronomia Molecular. O tema foi “Cogumelos” e nele participaram a Srª D. Maria de Lourdes Modesto e o Dr. João Luís Baptista Ferreira (Centro de Micologia da Universidade de Lisboa) que têm trabalhado juntos nos últimos anos na preparação de um livro sobre cogumelos e o seu uso culinário. Tivemos o privilégio de partilharem os seus conhecimentos connosco, as cerca de 30 pessoas, com interesses diversificados, ali reunidas para ficarem a saber mais sobre cogumelos.

Houve alguma dificuldade em arranjar cogumelos sem serem de cultura, devido à falta de chuva, pelo que se procurou arranjar uma amostragem diversificada de cogumelos de cultura disponíveis no mercado.

Felizmente, duas participantes, que já tinham estado presentes no seminário anterior, trouxeram uma variedade de cogumelos (uns comestíveis, outros não) e alguns deles eram selvagens. Conseguiu-se assim ter uma amostragem interessante de diversos tipos de cogumelos.

O seminário iniciou-se com uma apresentação do Dr. João Luís Baptista Ferreira, que dedicou cerca de 40 anos da sua vida profissional ao estudo da micologia, sendo um especialista em cogumelos.

Falou-nos das características dos cogumelos e seu ciclo de vida, dos seus nomes científicos e comuns, da riqueza do nosso património micológico e da sua exportação. (ver post “Cogumelos – algumas informações”)

Seguiu-se a Srª D. Maria de Lourdes Modesto que falou dos cogumelos na culinária, sua preparação e formas de os cozinhar (ver post – “Cogumelos em culinária”)

A conversa, decorreu num ambiente muito informal, houve oportunidade de esclarecer muitas dúvidas e muito se aprendeu.

Por exemplo, ficou bem esclarecido que a técnica popular de usar uma colher de prata ou um dente de alho para avaliar a toxicidade dos cogumelos não tem qualquer fundamento. Estes métodos não permitem de forma nenhuma identificar cogumelos tóxicos. Os cogumelos têm um grande potencial em culinária, mas devem ser obtidos de fornecedores que mereçam confiança.

Houve também oportunidade de conversar sobre as características e formas de cozinhar de muitos dos cogumelos que ali tínhamos. O que foi extremamente interessante e enriquecedor.

No final os presentes escolheram o tema para o próximo seminário que terá lugar a 21 de Novembro - "Sal".