domingo, 14 de setembro de 2008

2º Seminário de Gastronomia Molecular - Tema: Batatas


Integrado nas actividades do projecto C3 (C ao cubo) que pretende criar condições para o estreitamento de relações e o intercâmbio entre profissionais de cozinha e cientistas, vai realizar-se o segundo seminário de Gastronomia Molecular.
2008 foi decretado pela UNESCO o Ano Internacional da Batata. Para nos associarmos às comemorações vamos falar de “Batata”. Conhecer diversos tipos de batatas, discutir questões como “Para as cozer deve começar-se com a água fria ou com a água a ferver?” “Como transformá-las em puré para obter um puré de batata perfeito?”, são algumas das coisas sobre as quais vamos fazer experiências e conversar.
Venha partilhar as suas experiências, dúvidas e questões.

Data:
17 de Setembro
15h 30m às 17h 30m

Local:
ACPP (Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal)
Rua de Sant`Ana à lapa, nº 71 C, 1200 - 798 Lisboa.

Inscrições:
ACPP
Telefone: ( 351) 21 362 27 05
Fax: ( 351) 21 362 58 15
Correio Electrónico: acpp@acpp.pt

Custo:
10 euros

Artigo na TimeOut

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Artigos no Diário de Notícias

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Artigo no Público


Gastronomia molecular 19.06.2008
Gostava de provar um cristal de vento, um prato abstracto ou um cubo de Rubik feito com lulas e gelatina? Estas e muitas outras ideias saíram da cabeça do francês Hervé This, químico e pioneiro da gastronomia molecular - a ciência que estuda os processos culinários e que grandes chefes no mundo inteiro já aplicam nas suas cozinhas Texto de Ana Gerschenfeld e fotos de Rui Gaudêncio Na mesa há tubos de ensaio, um frasco com álcool, um de sumo de fruta, várias taças, duas batedeiras de varas, copos, colheres, uma garrafa de óleo, um jarro de água e um montinho de ovos. Um misto de laboratório de química e de bancada de cozinha. Hervé This parte um ovo, deita a clara numa taça e começa a bater vigorosamente a "mistura de água e proteínas" com as duas batedeiras ("quanto maior o número de varas, melhor"). "Estamos a injectar ar nesta clara de ovo. Vejam que estranho: a clara transforma-se em espuma e passa de amarela a branca". A seguir, junta-lhe óleo ("triglicéridos", precisa), continuando a bater, "para dividir o óleo em finas gotículas". "Agora temos uma emulsão." Verte-a num copo e coloca-a num microondas: "Vamos aquecê-la. Como a água vai ferver, a emulsão vai expandir-se". Mal isso acontece, abre a porta do forno e sacode o copo para retirar o conteúdo: "Agora temos uma pasta sólida de óleo; não sabe a nada, mas para lhe dar sabor, poderíamos ter acrescentado cogumelos ou alho - ou usado azeite em vez de óleo. Chamo a isto um Gibbs, em homenagem ao grande cientista americano." Foi a primeira das muitas demonstrações que anteontem acompanharam a palestra de duas horas que Hervé This, pioneiro da "gastronomia molecular", deu no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Há 20 anos, This e Nicholas Kurti (1908-1998), físico de origem húngara que trabalhava em Oxford, baptizaram assim a ciência por detrás dos processos culinários. A abordagem ganhou força no mundo inteiro e produtos químicos como o azoto líquido, a metilcelulose, o alginato ou o ácido tartárico tornaram-se parte do rol de ingredientes que muitos chefes de renome não hesitam hoje em utilizar. This acha que a sua ciência, ao descobrir novos ingredientes, novos utensílios e novas maneiras de cozinhar, pode contribuir de forma essencial para a arte culinária. Mas faz logo uma ressalva: "Nenhum chefe jamais fará gastronomia molecular na sua cozinha. O que eles fazem é cozinhar!" Ou seja, This faz ciência dura, e a prática culinária que hoje está a difundir-se é uma aplicação dessa ciência dura. Aliás, como dirá This mais tarde ao P2, "eu interesso-me pela química. Os alimentos são produtos químicos complexos e é por isso que são interessantes." Do seu laboratório, cujos efectivos variam entre "cinco a 20 pessoas", já saiu uma tese de doutoramento sobre o caldo de cenoura - e no final do mês, vai sair outra sobre a cor do feijão verde. A equipa de This dedica-se portanto a analisar os processos culinários pelos métodos da química e da física experimental, tentando perceber o que acontece ao nível molecular quando as pessoas - que tanto podem ser a nossa avó como um grande chefe - cozinham. "É possível descrever a comida na cozinha com fórmulas e operações", salienta This. E um dia - por que não? - vamos poder introduzir num computador a fórmula de um molho, por exemplo, e obter um molho perfeito carregando num botão. Mas, antes de mais, é preciso separar o trigo do joio nas dicas de cozinha transmitidas ao longo dos séculos. This e a sua equipa recolheram cerca de 25 mil dicas e testaram a sua validade. "Há chefes franceses com três estrelas [nos guias Michelin] que já escreveram que para fazer uma maionese, é preciso que o ovo e o óleo estejam à mesma temperatura", exemplifica. "Ou que, quando se muda o sentido de rotação da batedeira de varas, a maionese não resulta". Ambas estas 'dicas' são falsas. Tão falsas como "a idiotice que consiste em pensar que quando uma mulher tem o período, não podemos fazer maionese ao pé dela". Comida artificial? Uma das coisas que This gosta de salientar é a artificialidade da nova culinária. "Carne artificial? Conseguimos criá-la no laboratório em cinco minutos: um aglomerado de tubos cheios de proteína." E já agora, laranjas artificiais, feitas de minúsculos saquinhos de gel cheios de sumo de laranja - e até ovos de peixe falsos. "Odeio produtos naturais!", clama This, tirando prazer da provocação. "Hoje em dia, para além dos peixes, não existem alimentos naturais. E como eles tendem a desaparecer..." O açúcar é o mais artificial que se possa imaginar. Sendo assim, por que não ir mais longe? "A fruta e os legumes artificiais vão provavelmente tornar-se muito importantes no futuro", diz This. Pode-se objectar que não vale a pena fazer - This prefere a palavra "construir" - uma laranja artificial, visto que já existem laranjas naturais. Mas o investigador tem resposta para tudo: "Quando escolhemos uma laranja, das duas uma, ou é boa ou é má." Ao passo que, quando construímos uma laranja, podemos dar-lhe o sabor que queremos. "Um bom cozinheiro consegue condimentar o sumo de laranja de forma a dar à laranja artificial [o nome é "conglomelo" de laranja] o sabor e a consistência exacta que pretende." Já agora, This não é apenas um teórico da gastronomia. "Em casa, quem cozinha sou eu", diz ao P2. Porquê? "Porque o resultado é muito melhor!", responde com um amplo sorriso. E é um grande adepto da cozinha a baixa temperatura. "Por exemplo, no supermercado compro carne de vaca a quatro euros o quilo, que normalmente é muito dura. Mas se a cozinhar no forno a 70 graus centígrados durante muito tempo, ela fica tenra e deliciosa." Quanto é muito tempo? "Hoje à noite, quando chegar a casa, vou comer uma carne que esteve a assar durante 72 horas." Uma das preocupações de This é o dinheiro excessivo que todos gastam na cozinha, tanto nos ingredientes utilizados como na energia ("um fogão a gás não faz sentido, perde-se 80 por cento da energia"). A este desperdício, contrapõe métodos mais racionais para obter os mesmos - ou melhores - resultados. O que, numa altura em que o preço dos alimentos está a disparar, pode fazer muito sentido... Mas não é apenas em família, com a mulher e os dois filhos, que This gosta de pôr à prova a sua visão dos prazeres da mesa. Há vários anos que ele e um dos maiores cozinheiros franceses, Pierre Gagnaire, jogam um singelo jogo. Uma vez por mês, This lança, no site de Gagnaire, em www.pierre-gagnaire.com/francais/cdthis.htm, uma ideia de inovação culinária. Ao desafio, Gagnaire responde, passados uns tempos (por vezes vários meses), com uma ou várias receitas da sua invenção. Molécula a Molécula O resultado são coisas como os "cristais de vento", que são uma espécie de suspiros de limão - provavelmente os suspiros mais leves do mundo, uma vez que se baseiam no facto de que, "com apenas uma clara de ovo, é possível obter um metro cúbico de claras em castelo", explica This. Há também vários pratos "abstractos" - ou seja "que não sabem a nada em particular". Ou antes, explica, "que sabem muito bem, mas onde não é possível identificar nenhum dos ingredientes que entraram na sua confecção". "Mantenho esta colaboração", salienta, "porque estou convencido de que quando as pessoas muito ricas começarem a pedir este tipo de comida, todos vão querer." This diz que não pretende que a cozinha molecular substitua um dia a cozinha tradicional; as duas coisas devem e vão continuar a existir juntas. "O meu sonho é que a cozinha molecular se torne omnipresente, que se junte à cozinha tradicional." Para "depois de amanhã", contudo, o sonho é que a cozinha passe cada vez mais a ser construída "molécula a molécula". "Quando deitamos uma cenoura numa panela, é como se estivéssemos a tocar um acorde no piano, é uma mistura complexa de notas. Eu sonho com uma cozinha construída nota a nota." Seja por via molecular ou tradicional, cozinhar é sobretudo um acto de amor. "Há três componentes, a técnica, a arte e o amor. Mas a questão fundamental na cozinha é a do amor: como dizer 'amo-te' através da comida? Será que a ciência pode ajudar-nos a dizer 'amo-te'? Não temos aulas de amor nas escolas de química, mas eu defendo que deveríamos ter aulas de amor nas escolas de culinária." Quem diz mensagem de amor culinária está a falar do prazer que um bom cozinheiro consegue proporcionar aos seus comensais. "É possível determinar a quantidade de amor que existe num prato - e a neurobiologia poderá contribuir para nos esclarecer sobre esta matéria", salienta This. Mas os grandes chefes já sabem isso intuitivamente. Sabem, por exemplo, que quando comemos em grupo, a comida é melhor do que quando comemos sozinhos. E também que, quando se juntam em torno de uma mesa vários inimigos, mesmo a melhor das refeições sabe mal. E que uma refeição não é nunca uma linha recta entre dois pontos, entre o prato cheio e o prato vazio. É uma viagem a um universo de sabores, de temperaturas, de cheiros, de texturas, cheia de desvios e de surpresas. "Como a viagem de Ulisses entre Tróia e Ítaca."


Seminários 'C ao cubo'
De dois em dois meses, já a partir de Setembro
Desde o ano 2000, Hervé This tem promovido, em França, seminários mensais de gastronomia molecular que reúnem cientistas, cozinheiros e o público em geral. E agora, em Portugal, um grupo de cientistas e de grandes chefes de cozinha portugueses decidiu seguir o exemplo e lançar o projecto C3 ("C ao cubo"): Cozinha x Ciência x Colaboração. Os seminários, anunciou ontem no Pavilhão do Conhecimento o chefe Luís Baena, no fim do encontro com This, serão bi-mensais (sempre na terceira quarta-feira de cada mês ímpar) e durarão entre duas e três horas. O primeiro, já agendado para 17 de Setembro pelas 18 horas e aberto a todos os interessados, decorrerá na sede da Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal, em Lisboa, e terá como tema a batata. A.G.

Fotografias do Seminário de Gastronomia Molecular










Exposição no Pavilhão do Conhecimento

Já reparou que a sua cozinha é um pequeno laboratório? Todos os dias lá ocorrem saborosas reacções químicas, fenómenos físicos apetitosos e processos biológicos deliciosos!
Em geral a palavra “ciência” é associada a laboratórios e conceitos abstractos, com pouca relação com o quotidiano do cidadão comum. Mas tal não corresponde de todo à realidade. A ciência está no nosso quotidiano.
Os nossos alimentos, como tudo o que é matéria, são constituídos por átomos e moléculas. Quando cozinhamos estamos a provocar, ou a evitar, determinadas reacções químicas, fenómenos físicos...
É admirável como ao longo dos tempos, empiricamente, se chegou à forma de obter os melhores resultados na cozinha. Hoje os conhecimentos adquiridos permitem justificar, a nível molecular, muitas das técnicas comuns, explicando-as com base na composição dos alimentos e alterações físicas e químicas que ocorrem na sua preparação.
Descubra quanta ciência existe nos pratos de alguns dos mais conceituados Chefes de cozinha a trabalhar em Portugal, mas também quanto quanta beleza e arte na combinação de sabores, aromas e texturas.

Os painéis seguinte foram criados para uma exposição no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa. Estiveram expostos de 17 a 29 de Junho de 2008. (Clique em cima de cada um dos painéis para ver uma versão aumentada e legível).











Hervé This em Lisboa

(Clique nas imagens para uma imagem aumentada e legível)

Seminário de Gastronomia Molecular com Hervé This

Seminário de Gastronomia Molecular em Lisboa
com a presença de Hervé This
17 de Junho


Um grupo de trabalho, envolvendo pessoas ligadas à ciência e à cozinha, tem vindo a desenvolver esforços para estreitar a relação entre estes dois grupos profissionais de forma a estabelecer uma colaboração produtiva.
Numa fase inicial avançou-se para a formação de um think tank envolvendo cientistas e profissionais de cozinha de referência que funcionasse em ligação estreita com a ACPP (Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal) e a que os profissionais de cozinha pudessem recorrer para a resolução de problemas nas diferentes áreas.
Pretende-se ainda iniciar a realização de seminários periódicos de gastronomia molecular (de 2 em 2 meses) com temas pré-definidos, duração de 2 a 3 horas e de participação livre,
A apresentação deste projecto decorrerá no próximo dia 17 de Junho, com realização do primeiro seminário de Gastronomia Molecular. Temos o prazer de ter connosco nesse dia Hervé This, considerado o pai da Gastronomia Molecular, que nos dará conta do seu trabalho nesta área nos últimos 20 anos e da sua experiência com a realização desde tipo de seminários em Paris desde 2000.
Convidamos todos os interessados a estar presentes.
Fausto Airoldi, Luís Baena, Conceição Loureiro Dias, Paulina Mata

Seminário de Gastronomia Molecular com a presença de Hervé This
Destinatários – todos os interessados
Local – Pavilhão do Conhecimento – Parque das Nações
Data – 17 de Junho
Horário – 10h 30m - 16h 30m
Entrada Livre
Haverá um almoço, aberto a todos os participantes interessados, no restaurante Spot – LX no Casino de Lisboa, mediante pagamento de 35 euros.

Inscrição e informações:
Mail - c3@pavconhecimento.pt
Telefone : 218917113
No mail a solicitar a inscrição deve indicar se pretende participar no almoço.
O lugar no almoço será reservado mediante pagamento prévio através de transferência bancária para a conta com o NIB 0076 0000 19322684 101 59. O comprovativo da transferência deve ser enviado para o Pavilhão do Conhecimento para e-mail c3@pavconhecimento.pt, ou pelo correio ao cuidado de Filomena Ramalhoto, para a morada Alameda dos Oceanos, lote 2.10.01, 1990-223 Lisboa ou para o fax 218917171.

sábado, 13 de setembro de 2008

C ao cubo

Versão Portuguesa:



Nos últimos anos tem-se assistido a uma verdadeira revolução no mundo da gastronomia. Em todo este processo tem desempenhado um papel importante a ligação entre ciência e cozinha. Acreditamos que esta ligação pode ser extremamente frutuosa se todos os intervenientes participarem de forma activa e contribuírem com as suas competências.
Pretendemos em Portugal aprofundar a relação entre profissionais de ciência e de cozinha de forma a estabelecer uma colaboração produtiva. Deste trabalho conjunto surgiu o C3 que pretende ser, por um lado, um ponto de encontro de todos os que pretendem integrar este processo e por outro lado um estímulo ao seu desenvolvimento.
Numa fase inicial, estamos a investir na formação de um think tank com cientistas e profissionais de cozinha de referência que funcione em ligação estreita com a ACPP (Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal) e que possa contribuir para a resolução de problemas de interesse geral para a classe. Iremos também iniciar a realização de seminários periódicos de Gastronomia Molecular de participação livre,
Pretendemos também estabelecer e aprofundar as relações com outros protagonistas deste processo em todo o mundo.
Para a apresentação do projecto C3 , no dia 17 de Junho, convidámos Hervé This para nos dar conta do seu trabalho nesta área nos últimos 20 anos e da sua experiência com a realização dos Seminários de Gastronomia Molecular em Paris desde 2000. Pretendemos desta forma reconhecer a forte contribuição que tem dado para aprofundar a relação entre ciência e cozinha, e ainda associarmo-nos às comemorações do 20º aniversário da Gastronomia Molecular.
Fausto Airoldi, Luís Baena, Conceição Loureiro Dias, Paulina Mata
Apoio:


English Version:









We have been witnessing a revolution in the world of gastronomy. Connections between science and cooking are playing a crucial role in this process of intense change. We believe that those connections can be extremely fruitful if all protagonists participate actively in their development and contribute skills and expertise.
We wish to deepen and strenghten the connections between scientists and cooking professionals in Portugal, in order to establish and explore forms of productive collaboration. To pursue this aim, we created C3 (Cozinha x Ciência x Colaboração - Cooking x Science x Collaboration), in the hope that it will be a stimulus to the development of that collaboration and a meeting point for all those who are interested in taking part in it.
C3 is a project that involves the creation of a think tank composed of scientists and renowned cooking professionals, which will work in close partnership with the ACPP (Portuguese Association of Professional Cooks) and provide relevant support to those working in this industry. In addition, we will organise regular Molecular Gastronomy seminars and training courses. We also hope to establish and deepen connections with actors involved in the development of Molecular Gastronomy in other parts of the world.
For the public launch of C3 on June 17th, we have invited Hervé This to present his important work in the field over the past 20 years, and share his experiences of facilitating seminars on Molecular Gastronomy in Paris since 2000. With this invitation, we wish to pay homage to Hervé This’ contribution to the deepening of relations between science and cooking, and also commemorate the 20th anniversary of Molecular Gastronomy.
Fausto Airoldi, Luís Baena, Conceição Loureiro Dias, Paulina Mata

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